Alguns amigos e clientes queriam saber como era feito o “Off Road” em outros países, a The Specialist foi à Inglaterra conferir....
Descemos no aeroporto Heathrow em Londres às 16:00 (horário local), tendo em mãos as reservas para realizar nosso sonho, conhecer a fábrica Land Rover (o chamado pacote “Home of the Legend”) e fazer o curso LEVEL II (Nível II) no Eastnor Castle (onde foi treinado o extinto Camel Trophy e onde são testados os mais novos carros da Land Rover e também os eventos G4 na parte Off Road).
Land Rover Experience
A Land Rover implantou, tempos atrás o “Experience” para que, mesmo os não clientes, pudessem sentir como um carro da marca se comporta nas mais diversas situações fora de estrada.
Estes centros de treinamento (16 no mundo) são homologados e, além de diversão, servem para formar pilotos para frotas 4x4 de prestadores de serviços na rede de eletricidade, por exemplo.
Home of the Legend
Como o próprio nome diz, “Casa da Lenda” para a Land Rover é uma visita na fábrica, onde conhecemos a prensa que fabrica diversas peças dos carros da nova geração, a linha de montagem do Defender, parte da linha do Range Rover (paralisada no momento da visita) e também o laboratório de emissões da empresa, um dos mais modernos da Europa.
Por motivos de sigilo, fomos impedidos de fotografar esta parte da visita, mas conhecemos a fachada do primeiro prédio da Land Rover, erguido na década de 30, que continua intacto até hoje, apesar dos bombardeios da segunda guerra mundial, quando as instalações foram mudadas para Solihull (cidade próxima de Birmingham), distante 1 hora de viagem de trem de Londres.
A preparação para a visita requer vestir um avental (branco!) mais protetores de anéis e relógios (para não ter perigo de, em caso de toque, riscar um carro na linha de montagem).
Após um lanche, na parte da tarde e já “armados” com máquina fotográfica, pudemos apreciar e dirigir 2 carros (o pacote GOLDEN TOUR oferecia isto), escolhemos um RANGE ROVER SPORT V8 e uma DEFENDER 110 CREW CAB (cabine dupla) para a passagem pela pista.
A pista foi construída depois da fábrica e contempla diversos tipos de obstáculos, desde escadas (um lado escada, outro lado rampa), fossos com água, lodo, barro e também uma engenhosa “gangorra” onde se pode constatar, pilotando ao lado do instrutor, toda a facilidade de condução dos novos modelos Land Rover equipados com ETC ABS HDC.
A grande dificuldade é engatar as marchas com a mão esquerda e também a mudança do “ponto de vista” do lado esquerdo para o lado direito, isso atrapalha um bocado pois toda a experiência fora de estrada é baseada em saber exatamente onde as rodas estão, quando se inverte o lado, tudo fica diferente.
Caminho para Eastnor Castle
Ledbury é o nome da cidade onde fica o Castelo Eastnor. É uma cidade pequena (cerca de 6.000 habitantes), ficamos hospedados em um hotel, cujo prédio foi construído em 1.536.
Diz a lenda que os irmãos Wilks (idealizadores do Land Rover nos idos de 1948) perguntaram ao dono do Castelo, se poderiam usar uma parte da floresta para testes de desenvolvimento nos seus recém lançados carros, já que a pista construída para este fim na fábrica ficava muito “devassada” dando margem à espionagem industrial.
O dono do Castelo topou a ideia e diversas trilhas foram abertas para testar os diversos dispositivos existentes nos Land Rovers da época. Este acordo dura até hoje, o Experience Malverns como é chamado, é o único Experience de propriedade da Land Rover. Como não poderia deixar de ser, cada trilha ou pedaço desta trilha, tem um nome específico, ou de um dispositivo que sempre é testado nela (como exemplo a “TRANSFER BOX HILL” ou subida da caixa de transferência).
O carro
O instrutor Tim Bartes nos recebeu pela manhã dizendo que tínhamos um grande desafio pela frente, como havíamos nos inscrito no LEVEL II (o nível mais alto antes do obrigatório para se formar instrutor) ele pediu um veículo especialmente equipado, só que o único disponível era um Defender 130 (o mais comprido da linha!!!), sem o ETC (Electronic Traction Control) e ainda por cima com um reboque baixo na parte de trás, que acabamos batizando de ARADO, tendo como única vantagem o uso de pneus Michelin XZL 7.50 x 16 “canela fina” (bastante agressivo e eficiente) e um guincho SUPERWINCH equipado com cabo de Kevlar, e mais todos os apetrechos necessários para se safar em uma trilha, cordas de socorro, uma pá, um par de “Wellingtons” (apelido das botas de borracha em homenagem ao inglês que as desenhou) e um rádio VHF sempre conectado à sede pois o celular não tinha sinal nesta região.
O único dispositivo eletrônico operante neste Defender é um sistema “anti-stall” ele simplesmente não permite que o motor morra, independentemente do esforço, desde que a primeira reduzida esteja engrenada, imaginem que isso é realmente útil, principalmente levando em conta que a primeira reduzida é extremamente curta (perto de 60:1 de redução, contra 48:1 dos Defenders anteriores).
O desafio seria passar com este “caminhão” por todas as trilhas estreitas (cheias de facões onde o “arado” pegava e freava o veículo) e com muitas curvas fechadas sem que ficasse atolado, mesmo sendo necessárias manobras para as curvas mais fechadas.
A trilha
O terreno nos arredores do Castelo é de uma lama acinzentada (que havíamos visto tempos atrás nos pampas argentinos), extremamente lisa, mas com bom atrito na parte de baixo, bastante úmido (trechos com até 80cm de água foram freqüentes).
Após uma leve explanação de como este novo Defender funciona e de uma checagem rápida nos níveis embaixo do capuz, diferencial bloqueado, reduzida engatada, mãos no volante, dedos para fora do aro, cinto de segurança atado, regras básicas do Off Road seguro, partimos para os primeiros obstáculos.
Logo à frente, um belo buraco cheio de água, descemos para avaliar, isso é parte integrante do LEVEL II, avaliar com cuidado os obstáculos a fim de passar com o maior cuidado possível, importante para não danificar o carro e também o meio ambiente, os ingleses tem uma preocupação extra com este fato.
Com um pedaço de galho recolhido da vegetação ao lado, avaliamos a profundidade do fosso e chegamos à conclusão que uma segunda marcha reduzida seria a mais indicada para a travessia, que deveria ser feita em marcha lenta, um outro obstáculo mais à frente, todos avaliados a pé, onde seria mais fácil passar?
Engrene a segunda, duas mãos no volante, pé no freio e na embreagem, solte a embreagem vagarosamente, quando ele “quiser” andar, vá soltando o pedal do freio, não se pode voltar nem um milímetro, precisão de movimento é a parte mais importante do Off Road, disse-me Tim.
Depois do fosso, transposto com sucesso, uma subida íngreme, pneus molhados, derrapando bastante, uma curva à esquerda com descida e o Defender ficou, imobilizado pelo “arado” atrás, antes da descida, mas ainda era possível retroceder, ré engrenada, mesma operação (primeiro solta-se a embreagem e depois o freio, bem devagar) e ele estava fora da rampa novamente, um pouco mais de embalo, nada!!!
Na terceira tentativa, ganhamos mais 2 metros e o longo chassis do 130 ficou completamente preso no “cume” do morro, com o “arado” preso atrás, estávamos atolados! As 4 rodas girando no ar!
Uma chamada no rádio, um retorno ao longe, o resgate iria demorar muito, com o auxílio do guincho, ancorado propriamente a uma árvore, nos guinchamos para fora do obstáculo, a operação foi um sucesso total, avisamos os outros no rádio para que não ficassem preocupados.
Muitos outros obstáculos foram vencidos, agora mais acostumado com a direção do lado “right”, a troca de marchas na canhota, o “arado”, enfim, o carro estava mais “na mão” do que antes, nenhum outro atolamento, apesar de outros obstáculos piores do que o primeiro onde atolamos, já estávamos usando todos os recursos do Defender.
Andamos muitos quilômetros pelas trilhas na área do Castelo, experiência que nunca mais esquecerei em minha vida, um sonho realizado!!!
Enfim... pensar que há muitos anos atrás as mesmas trilhas que percorremos foram abertas por pioneiros do fora de estrada, com veículos da mesma marca é realmente emocionante, para um fanático em Land Rovers como eu, posso afirmar que valeu cada minuto (e libras!) investido na empreitada, a The Specialist recomenda!
Comments